Permanecendo fiel em tempos de infidelidade
A Bíblia relata a
história de quatro jovens que passaram por várias circunstâncias desafiadoras
no decorrer de suas vidas. Esses jovens conheciam o Senhor Deus e eram seus
servos, porém cresceram em um período de crise espiritual em sua terra. Judá em
sua teocracia estava regida por reis que eram retratados como aqueles que
fizeram “o que era mau aos olhos do Senhor”. O povo estava vivendo um tempo de
apostasia, idolatria e dureza espiritual. Haviam abandonado os princípios
divinos e estavam seguindo os caminhos de seus próprios corações. Quando Deus
em Sua misericórdia enviava profetas, incessantemente, para que se
arrependessem e não vissem o seu juízo, eles zombavam deles e desprezavam as
suas palavras, de sorte que Ele lhes enviou ao cativeiro. O Senhor entregou o
seu povo nas mãos do rei da Babilônia por causa dos seus pecados, e assim, eles
foram levados cativos e a sua terra foi devastada. Os utensílios da casa do
Senhor foram levados e colocados no templo pagão do rei babilônico, restando
apenas para o povo tristeza, luto e miséria.
Esses quatro jovens
estavam dentre os cativos que foram levados de Judá. Os que antes estavam no
meio de um povo apóstata e infiel ao Senhor, agora estavam no meio de um povo
pagão com uma cultura politeísta. Eles estavam isentos de suas liberdades e
distantes de suas casas, família e amigos, presos em uma terra estranha.
Lá, foram
selecionados juntamente com outros jovens com base em uma série de critérios, a
fim de aprenderem das letras e da língua dos caldeus. Eles iriam estudar por
três anos dentro do maior Império de suas épocas e nesse tempo iriam ser
instigados a se amoldarem à cultura babilônica. Esses jovens estavam correndo o
risco de aculturação, bebendo da cultura, religião e política babilônicas.
Os seus nomes foram
logo mudados, suas alimentações também, porém, teve algo que não conseguiram
mudar neles: as suas identidades. Eles eram servos do Senhor, fiéis a Ele, e
não abriram mão disso nem diante dos maiores riscos, inclusive de morte.
Decidiram trocar a alimentação das iguarias do palácio do rei por legumes e
água, por simplesmente saberem que se não fizessem isso, estariam desonrando o
Senhor. Esses jovens eram ousados, e por honrarem ao seu Deus, foram por Ele,
honrados. No final do período dos três anos, ninguém se achou semelhante a
eles, em robustez, inteligência e perspicácia.
“Em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino.” (Dn 1:20)
Não é custoso
perceber que estamos vivendo tempos semelhantes aos de Daniel e de seus amigos,
e assim como eles somos continuamente desafiadas a abrirmos mão de nossa
fidelidade Àquele a quem entregamos as nossas vidas. O apóstolo Paulo
instruindo Timóteo disse que “nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis...”
(II Tm 3:1), por causa do avanço do pecado no mundo e da maldade dos homens.
Estamos num mundo
cujo sistema é hostil aos princípios bíblicos. Foi esse mesmo sistema que odiou
e crucificou Jesus, logo, não podemos esperar amor dele. Vamos ser perseguidas,
afrontadas e odiadas por sermos seguidoras do Senhor (Jo 15:18-21). Vamos todos
os dias nos deparar com situações conflitantes e adversas, que exigirão de nós
ousadia para escolhermos ser diferentes em um mundo onde todos querem ser
iguais. Vamos muitas vezes ter que renuncias várias coisas por amarmos a
Palavra, e apesar de que para o mundo sejamos vistas como perdedoras, sabemos
que em Cristo já somos vitoriosas.
Nós estamos no
mundo, mas não pertencemos a ele, assim nos ensinou o Senhor Jesus (Jo 17:16). Infelizmente,
o amor de muitos, de fato, tem esfriado (Mt 24:12), e muitos têm apostatado de
sua fé. Várias Igrejas tem se deixado amoldar pelo sistema atual, permitindo
que práticas mundanas sejam acatadas, e o estilo de vida de alguns cristãos se
tornam cada vez mais semelhantes aos do mundo.
É certo que ser um
cristão fiel no tempo pós-moderno pelo qual nos encontramos é sobremodo
difícil, em meio a tantos “ismos” que tentam ofuscar a nossa fé.
Individualismo, pluralismo, inclusivismo, relativismo, hedonismo, feminismo e
consumismo são apenas alguns deles. Porém, ser um cristão fiel nunca foi fácil
em tempo nenhum. Vejamos o exemplo de Daniel e dos seus amigos. Quantos
desafios eles tiveram que enfrentar por serem judeus, todavia, eles não abriram
mão dos seus princípios, e em certo sentido, foram radicais em sua época.
Inúmeros cristãos também foram desafiados em tempos de infidelidade e por não
renunciarem a sua fé foram entregues à morte, preferiram
perder todo o mundo a fim de ganharem a Cristo.
“Estes, por meio da fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo, escaparam ao fio de espada, da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros. Algumas mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos. Alguns foram torturados e não aceitaram ser livrados, para alcançar uma melhor ressurreição; e outros experimentaram zombaria e espancamentos, correntes e prisões. Foram apedrejados e provados, serrados ao meio, morreram ao fio da espada, andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados. O mundo não era digno dessas pessoas." (Hb 11:33-38)
O nosso maior
exemplo de fidelidade é o próprio Senhor Jesus Cristo. Ele que estando neste
mundo sempre foi fiel ao Pai, sendo obediente até a morte, e morte de cruz (Fp
2:8), e mesmo quando tentado, nunca transgrediu contra qualquer aspecto da
vontade de Deus. Jesus Cristo venceu o mundo! Antes de Ele ascender aos céus,
prometeu que estaria sempre conosco (Mt 28:20). Portanto, nunca estaremos
sozinhos em nossa guerra pela fidelidade, e o melhor de tudo é que o Senhor é
por nós nessa guerra. Sejamos valentes, Ele está conosco!
"É necessário que os mordomos sejam encontrados fiéis" (I Co 4: 2)
Até onde
defenderíamos a nossa fé? Até a morte? Até que ponto estamos convictas de que o
que cremos que é verdade, é de fato verdade? Se cremos que é verdade, então
vivamos por ela, e se necessário for que também morramos, ao invés de acatarmos
as mentiras deste mundo. E acima de tudo, que nunca duvidemos de que na
atualidade é possível sim ser um cristão fiel, mesmo que tudo que vejamos seja
infidelidade estampado aos nossos olhos: é possível sermos cristãs, tais como
Daniel.
Thayse Fernandes
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